Fotos: Renan Mattos (Diário)
Na última quinta-feira, em uma live nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro abordou, entre outros nove assuntos, a caderneta de saúde do adolescente, que é distribuída pelo governo a crianças de 9 a 16 anos. Ele afirmou que a cartilha "até tem conteúdo interessante", mas sugeriu que pais avaliem se não seria adequada a retirada de algumas páginas ao final por terem conteúdo inapropriado para crianças e adolescentes nessa faixa etária.
O material, produzido pelo Ministério da Saúde, foi lançado em 2008 e as duas versões - uma para meninos e outra para meninas - estão disponíveis também no site da Biblioteca Virtual em Saúde, do governo. Com pouco mais de 40 páginas, a cartilha aborda o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), alimentação, desenvolvimento, vacinas, as mudanças que acontecem nesta faixa etária, sexualidade, entre outros assuntos. As páginas a que o presidente se refere contém imagens que mostram como prevenir a gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.
"Tem muitas informações boas aqui, precisas. Mas o final dela fica complicado no meu entendimento", afirmou o presidente.
Entretanto, a psicóloga Daiane Tolentino, que faz parte da coordenação da Política HIV, ISTs e Hepatites Virais de Santa Maria, afirma que as informações que constam na caderneta são importantes porque muitas vezes não são abordadas pela família.
- Muitos pais e mães ainda não se sentem à vontade para conversar sobre sexualidade com seus filhos adolescentes. Nesse sentido, esse instrumento - a caderneta - é uma orientação elaborada por profissionais técnicos competentes para que os adolescentes tenham acesso e consigam compreender as mudanças que estão ocorrendo no próprio corpo. Além disso, temos um dado nacional de que o número de adolescentes notificados com HIV tem aumentado e quase triplicou nos últimos anos - explica Daiane.
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Conforme dados da Vigilância Epidemiológica de Santa Maria, em 2018, das 257 notificações que o órgão recebeu de novos casos de HIV, 13 foram de jovens de 15 a 24 anos, e das 481 notificações de sífilis, 33 foram dessa faixa etária.
- As orientações que constam na caderneta fazem parte de um conjunto de abordagens referentes à saúde sexual e reprodutiva, que é direito de todos os cidadãos, de acordo com a Constituição Federal - completa a psicóloga.
Na transmissão ao vivo, o presidente afirmou que o governo deve criar outra caderneta "com menos páginas, mais barato e sem essas figuras" e que as cartilhas atuais serão recolhidas, mas não informou nenhum prazo.
O Diário entrou em contato com a prefeitura, que afirmou em nota que "A Secretaria de Saúde esclarece que segue resoluções e normativas expedidas pelo Ministério da Saúde. Em relação à Política Municipal HIV, ISTs e Hepatites Virais, a determinação é desenvolver ações que promovam a saúde da população com ética, responsabilidade e priorizando a informação adequada para cada situação".
*Colaborou Victoria Debortoli